Jornal do Peninha

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Delator conta como teria virado informante de Moro

Empresário paranaense Tony Garcia diz que foi ‘usado’ pelo ex-juiz federal para colher provas contra autoridades do Judiciário

Por Isabela Afonso – Revista VEJA

O senador e ex-juiz federal Sergio Moro (União Brasil-PR) enfrentou um duro revés nesta segunda-feira, 15, depois de o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar a abertura de um inquérito para investigar o ex-juiz por irregularidades cometidas na condução de um acordo de delação premiada em 2004.

O delator de vinte anos atrás é o empresário Antonio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia. Ele foi deputado estadual no Paraná entre 1999 e 2002. O caminho dele cruzou com o de Moro por causa do Consórcio Garibaldi, uma empresa de financiamentos que faliu nos anos 1990, palco de uma acusação de corrupção que o Ministério Público paranaense fez contra o empresário. O senador era o juiz do processo na época.

“Eu fui agente infiltrado do Ministério Público. Trabalhei dois anos e meio, diuturnamente, 24 horas tendo um agente de inteligência da Polícia Federal ao meu dispor, para pedir segurança, para pedir interceptação, tudo que colaborasse com a Justiça”, disse o empresário. No depoimento, Garcia conta que, a pedido de Moro, levou outros suspeitos para fazerem acordos de delação premiada no gabinete do magistrado — que nega todas as acusações.

Garcia briga na Justiça para anular os efeitos da delação — o que inclui reverter a obrigação de arcar com parte do prejuízo financeiro do Consórcio Garibaldi. O empresário era amigo pessoal do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) e fez, em 2018, outro acordo de colaboração premiada que levou o tucano à prisão em uma das fases da Operação Lava Jato.

Outro lado

Procurado por VEJA, Sergio Moro enviou uma nota afirmando que “sua defesa não teve acesso aos autos (do inquérito no STF) e reafirma que não houve qualquer irregularidade no processo de quase vinte anos atrás. Nega, ademais, os fatos afirmados no fantasioso relato do criminoso Tony Garcia, a começar por sua afirmação de que ‘não cometeu crimes no Consórcio Garibaldi’.