Jornal do Peninha

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No vermelho Mulheres são maioria entre os brasileiros endividados

Dívidas em atraso são consequência direta da recuperação mais lenta do mercado de trabalho para elas.

O percentual de brasileiros com dívidas em atraso é o maior em 12 anos, e a situação é mais grave para as mulheres.

O endividamento tem o rosto da massoteraputa Aline Gomes, chefe de família, mãe de uma menina de 6 anos: “Eu acabei deixando algumas contas para não deixar faltar o alimento em casa para minha filha, para minha família.”

E também tem a cara da dona de casa Fernanda Leite Pires, casada, três filhos: “Para não passar necessidade, a gente se endivida. Para poder fazer, ter as coisas em casa. Você vai pagar uma dívida, aí quando você termina de pagar essa dívida, você tem que pagar outra.”

E pior: nem todas conseguem pagar, diz a economista da CNC, Izis Ferreira.

“A inadimplência também é maior entre o público feminino. Nós temos, por exemplo, 31% de mulheres hoje com algum tipo de dívida ou conta atrasada, enquanto entre o público masculino essa proporção ela se aproxima de 28%. Isso mostra que para elas está mais difícil de fechar todas as contas no mês, de conseguir pagar todas as contas e dívidas dentro de um mês”, afirma.

 

Na casa de Fernanda, faz tempo que o mês fecha no vermelho. Ela e o marido ficaram desempregados no início da pandemia. Ele arrumou outro emprego faz um ano; ela ainda não. Um retrato de como se dá a recuperação do mercado de trabalho, mais lenta para as mulheres. Sem renda, Fernanda ainda não conseguiu limpar o próprio nome.

“Não é só o alimento, porque a gente também precisa de bastante coisa. Lá em casa são três crianças, então precisa de um chinelo, cortar o cabelo, comprar uma roupa. A gente vai pegando o cartão emprestado, né? A gente depende do cartão dos outros”, conta.

 

A economista do Insper Juliana Inhasz explica que dívidas que se arrastam ou sequer são pagas travam a economia.

“O que faz muitas vezes uma economia como a nossa conseguir crescer e sair de situações como essa atual é o consumo, é a demanda. Então uma situação em que a gente tem um superendividamento, ou muita gente inadimplente, é uma situação em que esse consumidor perde uma parte da possibilidade de consumo, ele eventualmente pode estar de alguma forma prejudicando produtores e outras pessoas dentro do mercado que cederam aquele crédito e que não vão receber, e que, portanto, também não vão consumir”, explica.

 

Aline está sem crédito na praça, mas trabalhando para resolver o problema: “Eu tive que usar um cartão de crédito e liguei hoje mesmo para tentar negociar. Para a gente, o nosso nome é tudo, né? O nome tem que estar limpo para gente conseguir os nossos objetivos”, diz.