Jornal do Peninha

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Novo ‘Viagra feminino’ é liberado nos EUA

Vyleesi tem algumas vantagens sobre o medicamento anterior: ele deve ser usado apenas antes da relação e pode ser tomado com bebida alcoólica

Katie Thomas, do New York Times

Um novo medicamento para tratar o baixo desejo sexual em mulheres , o segundo depois de Addyi , que entrou no mercado em 2015, foi aprovado nos Estados Unidos pela FDA, órgão de vigilância sanitária do país.

O remédio, chamado Vyleesi, será vendido pela AMAG Pharmaceuticals e deverá ser usado 45 minutos antes da relação sexual , por meio de uma caneta auto-injetável que é administrada na coxa ou no abdômen.

— Obviamente que estamos entusiasmados com a possibilidade de trazer uma outra opção aos pacientes —, disse Julie Krop, diretora médica da AMAG, em Massachusetts. — As mulheres vêm sofrendo significativamente, e quase em silêncio, com uma condição estigmatizada, quando muitas não sabem que é algo tratável.

Durante anos, o FDA esteve sob pressão para encorajar mais tratamentos para mulheres com baixo desejo sexual, condição conhecida como transtorno de desejo sexual hipoativo. Medicamentos para homens com disfunção erétil estão no mercado há duas décadas.

Mas os tratamentos voltados às mulheres sempre provocaram controvérsias. O primeiro produto, Addyi, foi aprovado em meio a uma campanha publicitária que acusava seus detratores de machistas. Mas alguns opositores argumentavam que seus riscos superavam seus benefícios. Isso porque o Addyi deve ser tomado todos os dias e não pode ser misturado a bebidas alcoólicas, o que pode causar desmaios.Logo depois que foi colocado à venda, o Addyi foi adquirido pela Valeant Pharmaceuticals por US$ 1 bilhão, que não conseguiu promovê-la. Assim, a Valeant vendeu de volta o produto para seus proprietários originais em 2017, e as vendas da droga têm sido mornas.

Executivos da empresa se recusaram a dizer quanto Vyleesi custará e disseram que forneceriam mais detalhes quando o produto for colocado à venda, ainda neste ano. Eles informaram que esperavam que as seguradoras cubram o Vyleesi em uma escala semelhante à Addyi e aos medicamentos masculinos para disfunção erétil — a cobertura desses medicamentos por planos comerciais de saúde é mista.

A farmacêutica, responsável por outros produtos para a saúde feminina, estima que cerca de 6 milhões de mulheres americanas na pré-menopausa sofram de baixo desejo sexual, uma condição que em grande parte não é tratada. A empresa disse ainda que o mercado pode se traduzir em cerca de US$ 35 milhões por ano para cada 1% dos pacientes afetados que usam seu produto. A droga foi desenvolvida pela Palatin Technologies, que a licenciou para a venda pela AMAG na América do Norte em 2017.

Algumas mulheres relataram náuseas

Também conhecido como bremelanotida, o Vyleesi tem algumas vantagens sobre o Addyi. Deve ser usado apenas antes da relação e pode ser tomado com bebida alcoólica. Mas também tem algumas desvantagens — ela envolve injeções de agulha e, em testes clínicos, 40% tiveram náusea após tomá-la. No total, 18% das mulheres abandonaram o estudo, incluindo 8% que pararam de participar devido a náuseas.

O medicamento mostrou melhorar os sentimentos de desejo das mulheres e diminuiu sua angústia em relação ao sexo, mas não aumentou o número de “eventos sexualmente satisfatórios” que fosse estatisticamente significativo.

Krop, da AMAG, disse que a FDA não exige mais que as empresas que testam drogas para baixa libido feminina usem a quantidade de relações sexuais que as mulheres têm como um critério de avaliação primária. Isso porque, segundo ela, as mulheres com baixo desejo sexual continuam fazendo sexo com seus parceiros — mas simplesmente não têm prazer. “Muitas vezes as mulheres têm relações por pena ou por obrigação para manter o relacionamento”, disse. “O problema é que elas estão incomodadas com esse tipo esse sexo que estão tendo.”

Alguns críticos da indústria farmacêutica questionaram se Vyleesi seria o exemplo mais recente de uma empresa oferecendo uma solução farmacêutica para um problema que, na verdade, seria muito mais complexo.

“Acho que vale a pena observar o nível aceitável de libido que é influenciado socialmente”, disse Adriane Fugh-Berman, professora do departamento de farmacologia e fisiologia do Centro Médico da Universidade de Georgetown, que estuda marketing farmacêutico. “Fazer com que as mulheres se importem menos com o sexo ruim que elas estão tendo é uma meta duvidosa.”