Filhos relatam o drama do isolamento social
Fonte: AR
Neste domingo (10/5), o segundo de maio, celebra-se o Dia das Mães. A homenagem às mulheres que dão forma à vida, em seus sentidos físico e humano. O momento, entretanto, pede distância e, para muitos, o que restou foi o abraço virtual. Para contar um pouco mais sobre esta nova forma de união, o jornal A Redação reuniu histórias de brasileiros que, devido à pandemia do novo coronavírus, terão de passar o Dia das Mães longe daquelas que lhes ensinaram sobre a força do amor.
Personagens para relatar a dor da saudade, em tempos de isolamento social, existem aos montes. O drama de alguns, porém, pode ser mais acentuado. Como conta a enfermeira goianiense Maria* (nome fictício), que terá de passar a data longe de sua mãe após ter sido infectada pela covid-19 no trabalho. “Lidar com isso [coronavírus] e ficar afastada da família não é brincadeira”, comenta.
A mãe da enfermeira, também moradora de Goiânia, tem 73 anos e possui doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Por sua mãe ser do grupo de risco e pela recente infecção por covid-19, Maria diz que pretende se manter afastada durante a celebração. “Quero fazer uma videochamada, para não deixar passar em branco. Mas eu acho que ela vai ficar mais quietinha, acredito que meu irmão não vai querer colocar ela em risco também.”
Distância e seus obstáculos
Diferente de Maria, a jornalista de Natal (RN) Thaís Campos, de 33 anos, não foi infectada pela covid-19. O que impede a visita à sua mãe, Letícia Campos, de 59 anos, é a distância. “Como minha mãe mora numa cidadezinha do interior de Mato Grosso, a distância para ir até lá é muito grande. Mas o risco de me infectar no caminho é muito alto e, consequentemente, infectaria ela também.”
Thaís Campos e Letícia Campos / (Foto: Arquivo pessoal)
“Na cidade em que minha mãe mora, Alto Araguaia (MT), não teve nenhum caso registrado ainda. Tenho medo de ir para lá e levar o vírus comigo”, explica. “Eu teria que pegar pelo menos dois voos até Goiânia (…), chegando lá iria para a rodoviária pegar um ônibus. Acho que o risco de me contaminar no trajeto é muito alto.”
Segundo a jornalista, a mãe vai passar a celebração sem a presença de nenhum dos dois filhos. “Acho que é ainda mais doloroso, para ela [Letícia Campos], passar o Dia das Mães sem contato com nenhum dos filhos. Mas ela concorda que é pro nosso bem.”
O momento, entretanto, tem gerado reflexões em Thaís e a jornalista já cogita, inclusive, se mudar para mais perto da mãe. “Numa hora dessas, começamos a repensar as prioridades que temos em nossas vidas”, diz.
Prioridades, riscos e renúncias
Não só a jornalista revê suas prioridades neste momento. A bacharel em Direção de Arte, Esther Teles, de 24 anos, já permanece longe de sua mãe, Mercês Teles, de 50 anos, desde o início de março. Esther mora em Goiânia e sua mãe, em Caldas Novas. “É a primeira vez que passo o Dia das Mães longe dela”, desabafa.
Mercês Teles e Esther Teles / (Foto: Arquivo pessoal)
“Minha mãe é do grupo de risco. Ela é hipertensa, diabética e ainda tem outras doenças, como artrite, artrose. Por isso eu decidi, com o coração na mão, não ir. É insuportável não poder ver meus pais. Mas eu prefiro poupá-la e ir depois”, conta Esther. “Sei que ela está sensível esses dias, porque sempre fazemos uma festa no Dia das Mães. Mas estaremos juntas por vídeo. Daqui, vou desejar o melhor sempre para ela.”
União virtual
Como para Esther e a maioria dos filhos que dividem esta data distantes de suas mães, a tecnologia se tornou a principal saída para contornar a saudade de abraços apertados e uma prosa sem porquê. A jornalista do Rio de Janeiro, Gabriela Jorge, de 36 anos, teve a ideia de realizar um almoço virtual para comemorar a data com sua mãe, Marirosa David, de 71 anos. “Essa foi a maneira que encontramos para amenizar a solidão e conseguir reunir todos os filhos e netos”, diz.
Marirosa David e, em seu colo, Gabriela Jorge (Foto: Arquivo pessoal)
“Como eu trabalho em um serviço essencial [jornalista], estou muito exposta ao coronavírus. Já não vejo minha mãe há quase dois meses para a segurança dela”, relata a jornalista. “Ela [Marirosa] anda muito triste com a falta dos filhos e netos”, comenta.
O momento, como diz Gabriela, não é de “escolha”. O dever de todos acabou se tornando uma constante renúncia pela garantia do bem-estar geral. Assim, caminha-se à recuperação para, finalmente, poder-se deixar levar pelas boas experiências que só o contato humano pode proporcionar.
*A enfermeira Maria optou por nome fictício para preservar a identidade.