Boletim é preocupante, afirma Durval Pedroso
Fonte: AR
Com a pandemia da covid-19 e a necessidade do isolamento social para a contenção do vírus, a violência contra a mulher tornou-se recorrente e pouco notificada nas unidades de saúde da capital, informa a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS). De acordo com o Boletim Epidemiológico de Violências Contra a Mulheres e Feminicídio, publicado pela prefeitura, em 2019 foram realizadas 1.346 notificações, contra 1.038 em 2020.
Os dados são coletados nos locais de atendimento. Quando uma vítima vai até uma unidade de saúde devido a alguma agressão sofrida, ela é atendida. Nesse local, é feita uma notificação sobre o ocorrido que, por sua vez, é encaminhada para o Núcleo de Prevenção a Violência e Promoção da Saúde (NVVPS) da SMS de Goiânia para que sejam levantados dados para a criação de políticas públicas de proteção às mulheres.
“O boletim aponta uma redução de 22% das notificações entre 2019 e 2020. A queda pode ser consequência de diversos fatores, uma delas, o receio de procurar as unidades de saúde devido ao cenário epidemiológico,” explica o secretário municipal de Saúde, Durval Pedroso. “São dados preocupantes, especialmente sob o ponto de vista da Saúde Pública”, ressalta o titular da pasta.
De acordo com os dados, a maioria das violências contra a mulher ocorreu em residência, representando 84% das notificações. A análise também demonstrou a repetição em 31,1% dos casos, ou seja, quando a violência ocorre frequentemente. O boletim epidemiológico aponta ainda que as violências mais praticadas contras as mulheres foram a física (53%), seguida pela violência sexual (26,9%), sendo que em 20% das vezes o autor foi o parceiro. Os meios de agressão mais frequentes foram respectivamente força corporal ou espancamento e o uso de objetos cortantes.
“Essas informações são extremamente reveladoras em relação à magnitude da violência contras as mulheres e de como ainda vivemos em uma sociedade misógina e machista. Precisamos levantar ainda outros dados para conhecer mais sobre essa violência, inclusive contra mulheres trans e lésbicas, das quais ainda não temos dados, mas que precisam ter uma pesquisa mais aprofundada”, explica a médica da Gerência de Violências e Acidentes da SMS, Marta Maria Alves da Silva.
Denúncias
A questão da formalização da denúncia nas delegacias também sofreu uma subnotificação. Para a secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Tatiana Lemos, os números reais das denúncias são muito maiores, em especial durante a pandemia. “Infelizmente a grande maioria dessas mulheres seguem não denunciando seus agressores por diferentes fatores, mas um dos principais é a dependência econômica do parceiro”, explica. “Muitas vezes as mulheres mais vulneráveis não têm sequer dinheiro para a passagem de ônibus para ir a uma delegacia denunciar seu agressor.”
Tatiana destaca que é fundamental o fortalecimento da rede de proteção à mulher no Estado. “A Secretaria da Mulher tem trabalhado em conjunto com a SMS, como é feito nos programas Mulher Mais Segura da GCM e Patrulha Maria da Penha, para que essas vítimas tenham suporte psicológico, social e financeiro, para que assim seja reduzida a violência”, enfatiza a secretária.
Feminicídio
Em 2020, 4,4% das mortes em Goiânia foram feminicídio, ou seja, quando uma mulher é assassinada pelo fato de ser mulher, em sua maioria de mulheres adultas (31,25%). Os meios mais utilizados nas agressões que resultaram em óbito foram as armas de fogo e objetos cortantes, ambos com 43,8%. O local onde mais ocorreram violências letais foi em vias públicas (43,8%). Em relação à raça/cor da pele, mais da metade (62,5%) das vítimas são negras.