Jornal do Peninha

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Placidina Pires: “Não ingressei na magistratura para cometer injustiças”

Juíza foi alvo de críticas após decisão

Jairo Menezes

Alvo de críticas nas redes sociais após expedir uma decisão que resultou na liberdade provisória de uma advogada vegana, a juíza Placidina Pires, titular da Vara dos Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais de Goiás, reconhece  que a tratativa do tema pode gerar interpretações diferentes do que aconteceu, mas pontua: “Não ingressei na magistratura para cometer injustiças”. Foi o que afirmou a magistrada em entrevista exclusiva ao jornal A Redação na tarde desta quinta-feira (7/1). 

“A chamada da matéria, digo em relação à divulgação pela imprensa, realmente choca e faz o leitor acreditar que a mulher ganhou a liberdade provisória porque é vegana e não tem comida do agrado dela”, disse, ao destacar que a detenta ficou por 15 dias na unidade prisional de Aparecida de Goiânia sem se alimentar. “Precisou ser internada em estado grave. Com o recesso forense, ela poderia perecer ainda mais. Poderia morrer”, completou. A magistrada ainda esclarece que o pedido de liberdade provisória foi avaliado anteriormente pelo Ministério Público Estadual, que se manifestou favorável à decisão tomada por ela dias depois. 
Placidina ainda esclareceu ao AR  que a acusação à mulher não era por violência, o que também pesou na decisão final. “A acusação é referente a jogo do bicho, crime não violento (…) Ela tem endereço fixo e não possui antecedentes”, argumentou. A juíza ainda acrescentou sobre o processo em questão que “não há sentença, ou seja, julgamento definitivo”. “Só existe uma acusação, sem contraditório. Entendi que ela poderia aguardar em liberdade o julgamento com tornozeleira, de acordo com recomendações do CNJ, como fiz para outro réu do mesmo caso que contraiu covid-19”, complementou. 
A magistrada disse ter maturidade para reconhecer as críticas, mas voltou a defender a decisão. “A missão do juiz não é fácil. Decidir a vida das pessoas é tarefa hercúlea, que abre margem para críticas, ora fundadas, ora infundadas. E eu, como defensora da liberdade de manifestação do pensamento, não posso censurar as críticas, desde que sejam respeitosas. Estou à frente de uma vara com competência estadual de combate a ORCRIM’s, tenho maturidade suficiente para compreender as críticas. Com atuação em inúmeros feitos criminais relevantes, com várias condenações, prisões e indisponibilidade de bens, não será uma soltura de uma ré em estado grave de saúde, para que possa aguardar em liberdade o julgamento, que maculará minha trajetória”.
“Seguirei o meu caminho como sempre fiz. Não sou perfeita e nem profiro decisões para merecer ‘aplausos’. Atuo de acordo com as leis vigentes, os postulados constitucionais e a orientação dos tribunais pátrios. As pessoas desavisadas costumam criticar o trabalho das outras pelo rótulo, sem se colocar no lugar, sem refletir e procurar saber o que realmente estão fazendo. Encaro as críticas com humildade e serenidade, até mesmo para meu aperfeiçoamento pessoal e profissional”, finalizou. 
O caso
O caso envolve uma advogada que estava presa no Complexo Prisional em Aparecida de Goiânia por suspeita de envolvimento com jogos de azar, uma contravenção penal. A acusada, que é vegana, estava sem comer a alimentação oferecida no presídio e, por isso, precisou ser internada. A magistrada, então, decidiu pela liberdade provisória — monitorada por tornozeleira eletrônica —, o que gerou repercussão e críticas nas redes sociais.