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Polícia apura há 4 anos como hacker condenado por extorsão contra padre Robson conseguiu fugir de cela de delegacia

Caso é investigado desde 2016, mas ainda não há conclusão sobre circunstâncias da fuga. Denúncia de extorsão originou investigação de desvios de verba na Afipe. Pároco nega irregularidades.

Fonte: G1- Goiás

Aberto há mais de quatro anos, segue sem conclusão o procedimento instaurado pela Polícia Civil para apurar as circunstâncias em que o hacker Welton Ferreira Nunes Júnior fugiu da cela de uma delegacia, em Goiânia. Ele foi condenado por extorquir dinheiro do padre Robson, no caso que originou a Operação Vendilhões, a qual apura desvios milionários na Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). Fundador da entidade, o pároco sempre negou qualquer irregularidade.

Ao G1, o advogado Ricardo Silvestre da Silva, disse que seu cliente está preso atualmente por causa da extorsão, que não irá comentar o procedimento que apura a fuga há quatro anos e que seu cliente não é investigado na Operação Vendilhões (leia a íntegra ao final do texto).

Na ocasião, Welton foi detido apontado como chefe de um grupo suspeito de roubar gado e gozava de uma vida cheia de luxo e ostentação. A investigação, à época, apontou que ele tinha uma fortuna aproximada de R$ 6 milhões, oriunda dos crimes que praticava.

Welton foi preso em 1º de junho de 2016, em um condomínio de luxo, na capital. Pouco mais de um mês depois, em 7 de julho, ele conseguiu fugir de uma cela onde estava, na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic). No mesmo dia, a polícia anunciou ter aberto uma sindicância para apurar as circunstâncias e declarou que a conclusão deveria sair em 10 dias.

No entanto, em nota enviada ao G1 nesta quarta-feira (2), a assessoria da Polícia Civil informou que ainda “se encontra em andamento, na Gerência de Correições e Disciplina da Polícia Civil, procedimento criminal para apuração das circunstâncias da fuga do referido criminoso”.

O comunicado salienta ainda que o procedimento é “sigiloso” e que, por isso, não é possível passar mais detalhes sobre o caso.

Quando a fuga ocorreu, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) também instaurou um procedimento para apurar o caso. A principal suspeita era de que algum servidor pudesse ter liberado Welton mediante uma compensação financeira.

Em nota, o órgão disse que os promotores não estão repassando informações sobre o caso e informou apenas que “acompanha, em suas atribuições de controle externo da atividade policial, a investigação sigilosa conduzida pela Corregedoria da Polícia Civil”.

G1 entrou em contato com a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) para saber se Welton se encontra preso atualmente, mas a instituição disse, em nota, que “as informações pessoais relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem são restritas aos órgãos e entidades administrativas estaduais”.

Welton Ferreira Nunes Júnior fugiu da cela na delegacia em 2016; ele foi condenado por extorsão contra o padre Robson — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Welton Ferreira Nunes Júnior fugiu da cela na delegacia em 2016; ele foi condenado

por extorsão contra o padre Robson — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Extorsão contra padre

Além de Welton, outras quatro pessoas foram condenadas em 2019 por extorquir R$ 2 milhões do padre Robson ameaçando divulgar mensagens pessoais dele. As investigações apontaram que parte dos pagamentos foram feitos de contas da Afipe, entidade criada pelo pároco e presidida por ele até o mês passado, quando pediu afastamento por conta das investigações de desvios milionários na entidade.

Na ocasião, Welton chantageou o religioso ameaçando revelar um suposto caso amoroso dele. No entanto, as investigações apontaram que as mensagens mencionadas pelo grupo eram falsas.

Em depoimento que consta no processo da Operação Vendilhões, Welton disse que parte dos e-mails e mensagens usados para extorquir os valores foram criados “dentro da delegacia”, quando estava preso.

No processo, consta que Welton também teria um caso amoroso com o padre Robson. O hacker, apontado como o mentor da extorsão, disse que em todo momento conversou com o religioso por um aplicativo de mensagens.

Entre os bens adquiridos pela Afipe, está uma casa de praia na Bahia — Foto: Reprodução/Fantástico

Entre os bens adquiridos pela Afipe, está uma casa de praia na Bahia — Foto: Reprodução/Fantástico

Ostentação

Além da casa em condomínio fechado – onde foi preso em 2016 – e da fazenda – onde a polícia encontrou gado roubado, Welton gostava, segundo a investigação, de ostentar carros de luxo. Segundo declaração do delegado Alexandre Bruno quando a operação foi deflagrada, o hacker possuía três caminhonetes e uma Mercedes.

“Ele não tem menos de R$ 6 milhões em bens. Levava uma vida rica conseguida por conta dos crimes. Além dos bois, ele também é suspeito de coordenar o roubo de máquinas retroescavadeiras no Pará”, contou.

Nota da defesa

“Tendo em vista, o que vem sido amplamente noticiado nos canais de comunicação do Estado de Goiás, assim como, a nível Nacional, a pessoa do Sr. Welton Ferreira Nunes Junior vem por meio de seus outorgantes, comunicar e esclarecer:

1. O Processo de Nº 201792352000, que refere-se as supostas Extorsões, embora haja condenação em 1ª Instância, não há, até a presente data, trânsito em julgado desta. Para tanto, encontrando-se em grau de Recurso de Apelação, e, em sendo assim, primando-se pelo princípio da presunção da inocência, conforme preconiza a nossa Carta Magna, em seu Art. 5º, inciso LVII, não se pode afirmar ou levantar ilações quanto aos possíveis fatos narrados de como se deram, ou tão pouco, o suposto vínculo com as demais partes envolvidas nestes Autos.

2. Considerando que, em razão do processo supracitado, o Ministério Público de Goiás, iniciou uma investigação que culminou na OPERAÇÃO VENDILHÕES, a pessoa do Sr. Welton RESSALTA que NÃO HÁ envolvimento, ou mesmo, que esteja sendo investigado a respeito de algo, na referida Operação. Para tanto, não podendo expressar opinião acerca de fatos alheios ao seu conhecimento, ficando a cargo, dos investigados nesta Operação para esclarecer a Sociedade o que por ora achar necessário. Não obstante, nenhum direito pode ser exercido de maneira absoluta. A mesma Constituição Federal que prevê o direito à liberdade de expressão estabelece também, no artigo 5º, X, que são invioláveis a intimidade, vida privada, honra e até mesmo a imagem das pessoas. Dito isto, embora respeitamos a liberdade de impressa, resta claro que há um persistente conflito entre esta e os direitos da personalidade do Sr. Welton, já que, O FOCO da Investigação Vendilhões é o Padre Robson de Oliveira, então Gestor da Associação Filhos do Pai Eterno – AFIPE, dentre outros, porém, o que se apresenta até o presente momento amplamente, é a tentativa de DESVIRTUAMENTO DESTES.

À oportunidade, AFIRMAMOS O COMPROMISSO COM A JUSTIÇA, tanto no Processo 2017, ao qual este ainda responde, quanto a eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários judicialmente na OPERAÇÃO VENDILHÕES”.