Jornal do Peninha

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Policiais do caso Genivaldo foram denunciados por agressão dois dias antes

Dois agentes estavam presentes em ambas as abordagens em Umbaúba (SE), mostram documentos

FolhaPress

Dois dos policiais rodoviários que atuaram na ação que matou Genivaldo de Jesus Santos dentro de uma viatura corporação tomada por gás são os mesmos que, dois dias antes, participaram da abordagem em que dois jovens afirmam terem sido agredidos e ameaçados. Os nomes dos agentes constam no registro da ocorrência feito pelos próprios policiais após a abordagem do dia 23 de maio, que envolveu um homem de 21 anos e um adolescente de 16 que trafegavam de moto sem capacete e com documentação irregular.

Os jovens fizeram boletim de ocorrência com as denúncias de agressão no dia 27, quatro dias após a ação. Segundo a mãe do adolescente, eles não procuraram a Polícia Civil antes porque estavam com medo.

De acordo com o relato feito por eles, os policiais os agrediram com chutes na cabeça, no abdômen e no tronco, além de tapas quando ambos já estavam algemados, além de terem feito ameaças.

Genivaldo tinha 38 anos e era esquizofrênico. Ele foi morto em 25 de maio por policiais que soltaram uma bomba de gás dentro do porta-malas da viatura em que foi colocado, após ser detido por dirigir uma moto sem capacete.

As cenas geraram forte comoção e críticas pela violência empregada na abordagem. A direção-geral da PRF criou uma comissão interventora para investigar o caso, tratado pela corporação como uma “conduta isolada”.

A equipe afirma que fazia uma ronda quando viu os dois rapazes trafegando sem capacete. Na versão dos jovens, eles decidiram fugir porque além da falta do equipamento obrigatório, estavam com a documentação irregular.

Percebendo que não conseguiriam escapar da polícia, eles alegam que pararam e que, mesmo assim, foram atingidos e derrubados pela viatura. Os policiais dão outra versão. Segundo eles, o motociclista “sofreu pequenas escoriações no rosto” porque caiu da moto durante a fuga.

O motociclista, ainda de acordo com o relato da PRF, percebeu a presença da viatura, “realizou uma manobra brusca”, “saiu em alta velocidade” e entrou em uma rua.

A equipe afirma que acompanhou o veículo “utilizando-se de sirene e sistema de sinalização típicos, além de comando de voz”, mas o homem desobedeceu a ordem de parada.

Os policiais afirmam que o motociclista não tinha habilitação e tentou fugir a pé, mas foi algemado. Ele recebeu voz de prisão “pelo cometimento, em tese, do crime de dirigir veículo, não sendo habilitado, gerando perigo de dano”.

“Questionado sobre a situação fática, o condutor declarou que ‘não queria perder a moto e que por isso agi daquela forma’, que ‘sei que estou errado’ e que ‘não sei o que passou na cabeça naquela hora para agir como uma pessoa errada’”, consta em trecho do documento interno.

O motociclista afirmou no BO registrado por ele que foi levado até o posto da PRF de Cristinápolis —a 16 km de Umbaúba. Ele foi liberado após assinar termo circunstanciado. O adolescente, que estava na garupa, disse que foi liberado durante a abordagem quando contou que era menor de idade.

A morte de Genivaldo e a operação policial que deixou mais de 20 mortos na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro, chamaram a atenção para a atuação da PRF. Genivaldo foi algemado, teve os pés amarrados e foi colocado no porta-malas da viatura com gás lacrimogêneo. O IML concluiu que ele sofreu insuficiência respiratória aguda.

A direção-geral da corporação criou uma comissão interventora na superintendência de Sergipe para investigar a morte de Genivaldo e abriu um processo administrativo contra três policiais.

O governo federal tem tratado o episódio como um caso isolado. Na segunda-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro disse que não se pode “generalizar tudo que acontece no nosso Brasil” e criticou a cobertura da imprensa.