Homofobia leva jogadores a se esconderem
A primeira Copa do Mundo masculina aconteceu em 1930, já tendo ocorrido até o momento 21 edições do principal torneio de futebol do planeta. São quase 90 anos de história e, durante esse período, mais de 7 mil jogadores já defenderam suas respectivas seleções em campo. Há, no entanto, uma lacuna que chama atenção: nunca tivemos um atleta abertamente homossexual participando de um mundial.
Existem, sim, atletas homossexuais. Contudo, mesmo sendo crime em diversos locais do mundo, inclusive no Brasil, a homofobia faz com que muitos jogadores permaneçam escondidos. Dentre os que já participaram de Copas do Mundo, a saída do armário aconteceu apenas após sua participação.
É perceptível como o medo surge, aqui, como o principal fator que impede que essa questão seja levantada. Os gramados são um território machista e a sexualidade ainda é um tabu. Infelizmente, o simples fato de ser homossexual pode até mesmo prejudicar a carreira desses jogadores, fazendo com que sair do armário se torne uma aposta muito arriscada.
Apostas, claro, são comuns no futebol. Os torcedores apostam em seu time do coração em plataformas de apostas esportivas que possuam a credibilidade da Rivalo no Brasil, os técnicos e clubes apostam na contratação de novos atletas, os jogadores realizam apostas ao decidir seus rumos no esporte. É necessário, contudo, que falar sobre a presença de homossexuais no futebol deixe de ser uma aposta de risco e torne-se uma necessidade. Combater a homofobia, afinal, é um deve de todos.
Uma voz isolada no universo do futebol
O primeiro jogador gay que se tem notícia de ter participado de uma Copa do Mundo foi o francês Olivier Rouyer. O atacante participou do mundial de 1978, mas sua saída do armário só aconteceu três décadas mais tarde.
Durante seu período como jogador, Rouyer atuou em clubes como o Chaumont, Strasbourg e Lyon. Depois de sua aposentadoria, passou a atuar como treinador, tendo assumido o clube francês Nancy durante três temporadas (1991-1994) e o Sion, da Suíça, por um breve período em 1999.
Atualmente, o ex-jogador e técnico atua como comentarista esportivo. Foi já quando desempenhava essa função que ele, em 2008, revelou em entrevista que se relaciona amorosamente e sexualmente com homens.
“Quando saí do armário, nenhuma personalidade do futebol me ligou. Houve um grande silêncio. Até hoje, me sinto uma voz isolada sobre o assunto. Minha vontade é construir algo para realmente proibir esses comportamentos homofóbicos no futebol. Mas, por enquanto, ninguém compra essa briga”, declarou o ex-jogador em entrevista ao Le Monde.
Homofobia é recorrente em estádios do Brasil
A ausência de jogadores abertamente homossexuais em Copas do Mundo é um reflexo do preconceito que visualizamos diariamente em nossa sociedade, estando também muito presente em estádios brasileiros.
Um caso recente de homofobia em estádios no Brasil aconteceu em setembro de 2019, durante uma partida entre Cruzeiro e Vasco. Um casal de torcedores cruzeirense foi ameaçado por estarem abraçados durante o jogo. Vídeos foram feitos numa tentativa de intimidar os rapazes. As filmagens chegaram até mesmo a serem compartilhadas na internet, gerando uma onda de ataques homofóbicos ainda maior.
Mais tarde, o vídeo foi compartilhado por Yuri, um dos rapazes que aparece nas filmagens, que decidiu reverter a situação e aproveitar o momento para se declarar para o namorado.
“Ontem, usaram esse vídeo para propagar homofobia, hoje, eu uso pra dizer o quanto eu te amo. Warley, você é o cara que chegou na minha vida pra afirmar o quando o amor vale a pena, e o quanto faz bem. Obrigado por ser o melhor namorado que eu poderia ter, o melhor amigo, cúmplice das melhores zueiras. Te amo muito”, escreveu ele em uma publicação nas redes sociais.
Outro caso ocorreu na abertura da Copa América no Brasil, em junho de 2019. Durante a partida entre Brasil e Bolívia, a torcida brasileira ecoou gritos de “bicha” sempre que o goleiro boliviano Carlos Lampe se preparava para um tiro de meta. Os gritos homofóbicos culminaram em uma multa aplicada pela Conmebol a CBF, sendo esta uma determinação estabelecida pela FIFA para casos de homofobia em estádios.
A principal entidade do futebol nacional já havia sido punida pelo mesmo motivo durante a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.