Fonte: Pedro Vilas Boas – UOL
A professora Carol Magalhães não sabia, mas as 14 horas de voo que ainda faltavam entre Dubai e São Paulo não seriam marcadas apenas pelo cansaço da viagem. Ela seria vítima de importunação sexual.
O que aconteceu
A docente da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) resolveu tornar público nas redes sociais um caso que ocorreu quando voltava de uma viagem de trabalho no Japão, no último dia 8. Ela relata que um passageiro de um voo da Emirates se masturbou ao seu lado enquanto ela voltava de uma conexão de Dubai para São Paulo.
“Ele estava todo coberto, assistindo a um filme, quando percebi que ele estava manuseando a genitália com movimentos verticais”, disse Carol, em entrevista a Universa. A professora estava no assento do meio, enquanto o marido dormia na poltrona próxima à janela. O suposto importunador sentava na cadeira do corredor.
Sem falar com o homem, o marido da professora foi direto procurar ajuda com uma comissária de bordo. O suposto importunador questionou Carol sobre o que estava acontecendo, mas ela, assustada, não respondeu. Depois, os dois também foram até a equipe da aeronave.
“Ele se ajoelhou e disse que era cristão. Ele negou que estivesse se masturbando, disse que estava manipulando pílulas e mostrou duas pílulas azuis”, disse Carol, que não acreditou na versão do passageiro.
Segundo a professora, a comissária acionou um superior da equipe, que não teria levado a denúncia a sério. Pior, a educadora conta que o funcionário da Emirates transformou o outro passageiro em vítima. “Disse que o rapaz se sentiu agredido por meu marido, que estava nervoso. Ele ainda perguntou ao homem se ele queria denunciar a gente para a polícia. Eu disse a ele: ‘Depois do pesadelo que passei, você acolhe o rapaz? É isso mesmo?'”.
O comissário de bordo teria dito à professora que achou o relato do passageiro “muito convincente” e apenas deslocou o homem de lugar. O funcionário ainda pediu para Carol e o marido manterem distância do suposto importunador e não se dirigirem a ele. “Perdi minha estrutura de maneira física e psicológica. Entrei num quadro que nós mulheres sempre entramos quando somos duvidadas, um quadro de inércia, impotência, descredibilidade”.
Carol conta que se sentiu obrigada a tentar esquecer o assunto e seguir em frente. Porém, após conversar com a filha e um amigo, decidiu formalizar a denúncia na Polícia Civil de São Paulo e na própria Emirates. Ela também resolveu compartilhar o relato nas redes sociais no último domingo (20).
“Pensei: ‘Que exemplo vou deixar para minha filha e para as mulheres que sofrem com isso?'”, disse.
Por meio de nota, a Emirates disse que não há registro da denúncia na empresa. “A Emirates tem como prioridade a segurança e o bem-estar de seus passageiros e todos os membros de sua tripulação são treinados para lidar com qualquer forma de comportamento inadequado a bordo. Até o presente momento a Emirates não recebeu nenhum tipo de pedido da passageira ou das autoridades brasileiras, mas permanece à disposição para fornecer qualquer informação ou esclarecimento sobre os fatos alegados”.
A Polícia Civil de São Paulo informou que o caso foi encaminhado à Polícia Federal.
Diferença entre assédio e importunação
Assédio sexual. Para caracterizar é preciso que ele ocorra no ambiente de trabalho e que haja diferença hierárquica entre agressor e vítima. Como, por exemplo, um chefe constrange uma funcionária a dormir com ele sob ameaça de ela perder o emprego. Mesmo que não haja uma investida tão direta, mas a pessoa se sentir intimidada ou humilhada com a abordagem do outro, ela é vítima.
Importunação sexual. É o ato de praticar, contra vontade de uma pessoa, qualquer ato sexual, sensual ou erótico. Inclui, por exemplo, toques não consentidos, “encoxadas”, masturbação, ejaculação, etc.
Estupro. Ocorre com violência ou grave ameaça. Nesta situação, o autor do crime força a vítima a ter consigo conjunção carnal ou qualquer outro ato de perversão sexual.
Para denunciar assédio, a vítima deve procurar ajuda e denunciar o agressor no setor de recursos humanos da empresa, além de fazer a denúncia formal nos órgãos de defesa da mulher.
No caso de importunação sexual e estupro, a vítima deve denunciar à Polícia Militar ligando para 190 e também pode fazer a denúncia no Centro de Atendimento à Mulher pelo número 180 ou à Guarda Municipal número 153. O Disque-Denúncia também está aberto a esse tipo de caso, número 181, assim como o Disque 100 de Direitos Humanos.