Jornal do Peninha

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Queda de meteorito atrai cientistas de todo o mundo a Portelândia

Rocha espacial caiu sobre casa na zona rural 

Desde a manhã de 17 de julho que a rotina na fazenda de Josemar Rodrigues, no município de Portelândia (GO), não é a mesma. Era um domingo. O fazendeiro assistia televisão e a esposa preparava o almoço quando escutaram um forte barulho. Um objeto atingiu e furou o telhado e o forro da casa, danificando até mesmo o piso. Um meteorito havia caído na cozinha. 
Entre os meteoritos existentes, o que caiu na casa de Josemar não é o mais raro, pelo contrário, trata-se de um dos mais comuns, chamado de condrito ordinário. No entanto, fato muito raro foi ele ter caído sobre uma casa. Segundo a astroquímica Diana Andrade, do Laboratório de Análise de Material Espacial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LaMEsp/UFRJ), a grande maioria dos meteoritos que caem sobre a Terra não é localizada. “Encontramos um em 2021, este agora em 2022, mas acontece de ficarmos mais de um ano sem achar nenhum”, afirma a pesquisadora. Segundo Diana, a maior parte cai no oceano, ou em áreas remotas, como os polos Norte e Sul e florestas.    
Todavia, o fato de ser um meteorito comum não reduz a importância que ele pode ter para a ciência. Diana explica que este meteorito foi formado há bilhões de anos e estava intocado desde a formação do sistema solar. Por isso, o material pode esclarecer questões importantes sobre o universo. Não à toa, tem despertado interesse de pesquisadores do mundo todo.

Segundo Josemar, desde que o fato foi noticiado, já recebeu visitas de pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiros. “Recebi um pesquisador do Uruguai, que procurou por mais fragmentos, mas não encontrou. Teve um da Argentina. Pessoas da China e também dos Estados Unidos entraram em contato. Agendei também uma visita de um pesquisador da Universidade de São Paulo (USP)”, afirmou.

Diana e os físicos Thiago Oliveira e Maurício Bolzam, da Universidade Federal de Jataí (UFJ), foram os primeiros a estudar o meteorito de Portelândia. Com a análise dos fragmentos da rocha, foi possível determinar a origem e a composição. A UFJ comunicou que buscará ser a fiel depositária de uma amostra junto ao boletim internacional de meteoritos.

Segundo Josemar, um pesquisador da USP tem conversado com ele para que um dos fragmentos possa ir para um museu da universidade. Josemar também revela que já recebeu ofertas de pessoas que querem comprar partes do meteorito. “Já se interessaram pelo telhado, o piso e o forro também”, comentou. 

Disputa
De acordo com Diana, o meteorito, por ser comum, não tem grande valor financeiro, no entanto é preciso realizar mais estudos. Ela conta que, além de estabelecer quais minerais compõem a rocha, estudo este que já foi feito, é importante saber as formas de ligação entre estes elementos, o que poderia trazer informações novas sobre o ambiente em que foi formada. “Um meteorito que vem de Marte é um pedaço daquele planeta que podemos estudar sem precisar ir até la. A mesma coisa quando é um meteorito da Lua”, exemplificou Diana. 

Segundo a pesquisadora, para que estudos mais aprofundados possam ser feitos, um fragmento da rocha espacial teria que ser levado até o laboratório da UFRJ. De acordo com ela, isso ainda depende de uma autorização de Josemar, que é o proprietário do material. 

A pesquisadora destaca que, como não existe uma legislação no Brasil específica sobre a posse e a comercialização de asteroides, ocorre de colecionadores e pesquisadores adquirirem estes materiais no Brasil e levarem para outros países. Para ela, é importante que os estudos sejam feitos no Brasil, o que contribuiria para o avanço dos dados relacionados ao tema no país. Procurado por pesquisadores, curiosos e colecionadores, Josemar conta que entregou um dos fragmentos da rocha espacial com à UFJ e guardou os demais. “Estou esperando a poeira baixar”, afirmou. Segundo ele, os furos no telhado e no forro, bem como o piso danificado, permanecem do mesmo jeito.
  

Telhado furado pela queda do meteorito (Foto: arquivo pessoal)