Já o STF (Supremo Tribunal Federal) foi criticado abertamente apenas durante os discursos do Direita SP. O grupo ainda era o único entre os majoritários que levou para a rua a defesa do decreto de porte de armas do presidente Bolsonaro. Entre manifestantes independentes, porém, a rejeição ao Supremo era frequente nos cartazes.
Em contrapartida, MBL e Vem Pra Rua eram claros em explicitar que defendiam causas – a Lava Jato e a Reforma da Previdência -, e não pessoas.
Dentre os quatro grupos, espalhados em pontos distintos da Avenida Paulista, a multidão reunida em frente ao trio do Nas Ruas era a maior; a do MBL, a menor.
Em discursos, diversos oradores nos trios falaram em pelo menos um milhão de manifestantes na Avenida Paulista neste domingo, mas a PM não divulgou estimativa oficial.
“Espírito crítico” e “armadilha”
“Nós mantemos nosso espírito crítico e vigilante em relação aos governantes, não abaixamos a cabeça para tudo que falam”, afirmou ao UOL Renato Battista, coordenador nacional do MBL. “Nosso apoio é a ideias, a pautas concretas, não a figuras.”
O deputado estadual Arthur “Mamãe Falei” Duval (DEM-SP) e o vereador Fernando Holiday (DEM-SP) discursaram no trio do MBL. O deputado federal Kim Kataguri (DEM-SP), outra das principais lideranças do MBL, estava em Brasília. Os três são filiados ao mesmo partido de Rodrigo Maia.
Para Adelaide Oliveira, porta-voz do Vem Pra Rua, o apoio explícito a políticos, mesmo o presidente ou seus ministros, é uma armadilha.
“Desde que fizemos nosso estatuto não caímos mais nessa, de deixar político usar o movimento, subir para discursar”, disse. “A reforma da Previdência é uma questão de vida ou morte para o Brasil. A operação Lava Jato também, mas não podemos perder nosso senso crítico.”
“Oportunistas” e “esquerdopatas”
A falta de apoio explícito do MBL ao governo Bolsonaro foi motivo de crítica dos outros grupos que participaram da manifestação. Integrantes do Direita SP e do MBL chegaram a discutir e se agredir durante o ato. A PM (Polícia Militar) precisou intervir, mas ninguém foi preso.
“Esse pessoal que não quer defender o governo, o presidente e todas as suas pautas está é em cima do muro”, afirmou Edson Salomão, do Direita SP.
O MBL também foi alvo de críticas em outras manifestações pelo Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro.
Aliado de Jair Bolsonaro desde a eleição, o empresário Luciano Hang subiu ao trio do Nas Ruas e fez um discurso exaltado contra a oposição e o “esquerdopatas”. “Os trabalhadores votam na direita”, afirmou Hang.
Para o porta-voz do movimento Nas Ruas, Tomé Abduch, os vazamentos de conversas entre Sergio Moro, quando ainda era juiz, e o coordenador da Lava Jato, Deltan Dellagnol, são “criminosos” e o jornalista americano Glenn Greewald, fundador do site The Intercept, deveria estar preso. “É um direcionamento ideológico descarado. O marido do jornalista é deputado do PSOL [David Miranda], um partido de esquerda”, afirmou.
A manifestação ocupou quase seis quarteirões da Avenida Paulista, entre as ruas Peixoto Gomide e a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, mas era possível observar alguns clarões na multidão, que também se misturou ao público que já ocupa a Avenida Paulista normalmente aos domingos, quando a via fica fechada para carros durante a manhã e a tarde.
“Eu vim aqui hoje porque não é possível, depois de tudo, ainda quererem contrariar a vontade popular, a democracia que elegeu o governo Bolsonaro”, afirmou o designer de joias Luiz Henrique da Malta Soares, de 58 anos. “Foram 30 anos de governos esquerdistas. Para consertar o estrago e mudar a mentalidade, ainda vai dar muito trabalho, para expulsar toda essa corja e recuperar nosso país.”
Por volta das 18h, o trânsito estava reaberto na Avenida Paulista, e os manifestantes começavam a dispersar-se.
De acordo com a PM no local, não houve ocorrências significativas durante a manifestação.